A proposta de reforma da Previdência e o desemprego, que atingiu mais de 13,4 milhões de brasileiros no mês de março, foram os principais alvos dos protestos e manifestações de 1º de Maio, Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores, no Brasil. Em atos unificados, inéditos no país, as centrais sindicais confirmaram o indicativo de greve geral para o dia 14 de junho, contra os retrocessos do governo Jair Bolsonaro (PSL).
Participaram dos atos a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Força Sindical, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a União Geral dos Trabalhadores (UGT), a Intersindical, a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), a Nova Central, a CSP-Conlutas, a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, além de movimentos populares e partidos políticos de centro e esquerda.
“Temos condições de barrá-la [a proposta governista]. Mas eles também têm condições de aprovar. Precisamos convencer a opinião pública a pressionar os deputados”, disse o presidente da CUT, Vagner Freitas. “Tem de pegar sonegadores, pegar as empresas que sonegam. Mas o que Bolsonaro quer fazer é acabar com a Previdência”, afirmou.
“É um sinal de amadurecimento das centrais”, declarou o presidente da Força, Miguel Torres, sobre os atos unificados.
O presidente da CTB, Adilson Araújo, acredita que a “centralidade” do movimento oposicionista está em uma agenda que contemple itens como a reforma tributária, aumentando o limite de isenção do Imposto de Renda na fonte, por exemplo. “Quem está pagando a conta da crise é a classe trabalhadora. É um governo desqualificado, despreparado, sem um projeto para o país”, criticou.
Confira como foram algumas das mobilizações pelo Brasil:
Espírito Santo
As manifestações do dia mundial da classe trabalhadora aconteceram durante todo o dia na Praça Costa Pereira, Centro de Vitória. O objetivo foi juntar todos os movimentos e fazer um grande dia de luta dos trabalhadores e trabalhadoras. Foram convocados sindicatos, minorias e oposições, os movimentos sociais da cidade e do campo, os coletivos estudantis e de combate às opressões, pastorais e paróquias parceiras, e os blocos de carnaval e escolas de samba vinculados aos movimentos sociais.
Uma programação extensa foi realizada com várias delegações. As atrações fizeram do 1º de maio na capital, Vitória, um dia de confraternização, solidariedade, resistência e de luta contra a retirada de direitos e ataques à classe trabalhadora. Apresentaram-se o Coral Serenata – composto por alunos da escola municipal de Ensino Fundamental e Médio Mauro Braga, a Banda de Congo de Goiabeiras, Carlos Papel e convidados, PretaÔ e o encerramento ficou por conta dos blocos Afro Kizomba e Luta de Classes. Oficinas de recreação entreteram a criançada.
Quem esteve nas manifestações culturais também pode debater com várias lideranças políticas e sociais o projeto nefasto da Reforma da Previdência, que é cruel com os trabalhadores, principalmente com as mulheres e os/as trabalhadores/as rurais.
São Paulo
O ato político em São Paulo (SP) reuniu cerca de 200 mil pessoas, segundo organizadores. Dirigentes de todas as centrais sindicais criticaram a equipe econômica do Bolsonaro e reforçaram a importância da greve de 14 de junho. Subiram ao palco artistas como Leci Brandão, Ludmilla, Simone e Simaria, Paula Fernandes, Toninho Geraes, Mistura Popular, Maiara e Maraísa, Kell Smith, e Júlia e Rafaela.
O desempregado Gedson Medrado, de 31 anos, aproveitou o movimento para trabalhar. Sem emprego há mais de um ano, ele vendia balas de eucalipto ao público durante os shows.
Trabalhadores se reúnem próximo ao palco montado no Vale do Anhangabaú. (Foto: Pedro Aguiar)
Enquanto não encontra um emprego com carteira assinada, Gedson vive na informalidade. Morador da Zona Leste da capital paulista, ele já trabalhou como auxiliar de limpeza, vidraceiro e garçom. A irmã dele também está desempregada. “Quando você arruma um emprego, não compensa, na verdade. Trabalhar ganhando R$ 1 mil reais? É melhor fazer bicos”, conclui.
“As pessoas hoje trabalham como podem, para sobreviver. Esse é o meu caso. Hoje vendo bala aqui, amanhã água no farol… Estou sempre na luta”, finaliza.
Por seu caminho no Vale do Anhangabaú, Marialda Duarte Silva, de 51 anos, coloca o nome em todos os abaixo-assinados que encontra que são contra as reformas propostas pelo governo federal. Desempregada, a carioca está morando há um mês em São Paulo, desde que a empresa terceirizada onde ela trabalhava perdeu o contrato com uma escola e demitiu funcionários. A cozinheira era responsável pela merenda escolar.
Marialda não pertence a nenhum partido ou sindicato, mas se diz do “movimento contra a reforma da Previdência”. “Nós, mulheres, vamos ter que trabalhar mais. Os homens também. Já pensou ter trabalhado 35 anos e ter que trabalhar mais 15?”, questiona. Quando perguntada se deve se aposentar logo, ela ri: “Quem dera!”.
Guilherme Boulos, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), destacou que a união de todos os trabalhadores e trabalhadoras na greve geral será uma ação importante na defesa dos direitos da população: “Aqui começa a luta que vai barrar a reforma da Previdência no dia 14 de junho o Brasil vai parar contra esse projeto que quer destruir a previdência pública. Eles não querem enfrentar privilégios, isso é mentira. Eles estão atacando direitos”, disse.
Ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT) afirmou que o governo tem “pessoas obscurantistas” e afirmou que a economia está patinando. Segundo ele, Bolsonaro é hoje “persona non grata no mundo inteiro”.
Eide Menezes de Carvalho, de 31 anos, entende que a promessa de que a reforma da Previdência vai melhorar economia do país é falsa. “Eles estão falando só nisso, é só nessa reforma que o governo foca. Mas cadê os empregos?”, questiona. “Eu acredito que o governo tem que gerar mais postos de trabalho e melhorar a economia; tem que qualificar mais os profissionais. Focar na saúde e educação. Tem muita gente desempregada e estou nessa estatística”, lamenta.
Há dois meses, Eide sobrevive graças ao seguro-desemprego. Ela busca alguma vaga na linha de produção de alguma fábrica em Jundiaí (SP).
Em Campinas (SP), a 90 km da capital, jovens integrantes do MST que estavam indo participar das comemorações de 1º de Maio foram parados e revistados pela Polícia Militar sem justificativa no Largo da Catedral, região central da cidade.
Em Ribeirão Preto, o ato aconteceu no assentamento Mário Lago, do MST, com entidades religiosas, partidos políticos e movimentos sociais.
Cerca de 250 pessoas participaram dos protestos em São José do Rio Preto (SP), que aconteceram no anfiteatro do Clube do Lago. A atividade unificada reuniu organizações e movimentos populares do município.
Rio de Janeiro
Os Arcos da Lapa, na região central da cidade, amanheceram com o rosto do ex-presidente Lula (PT), preso político desde abril de 2018.
Logo pela manhã, o rosto de Lula estampava os arcos da Lapa, na região central. (Foto: Narciso Barreto)
Perto dali, na Praça Mauá, aconteceu o ato unificado das centrais sindicais, com cerca de 10 mil pessoas. O encontro dos trabalhadores também contou com um samba para homenagear a cantora carioca Beth Carvalho, que faleceu na última terça-feira (30) e que costumava participar das celebrações de 1º de Maio em defesa dos direitos dos trabalhadores.
Em diferentes momentos, os manifestantes gritaram pela liberdade de Lula.
Michele Alves, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Oswaldo Cruz (Asfoc), esteve no ato e destacou que as manifestações denunciam todas as formas de ataque à classe trabalhadora, mas também são importantes para lembrar das referências que deixaram seu legado.
“É importante lembrar de Marielle Franco e dizer que ela vive, que é semente, que estamos lutando em prol do que ela foi. A gente sabe quem a matou, mas precisamos saber quem mandou matar. Hoje também lembramos da Beth Carvalho, tudo o que ela representou para o Brasil e para o samba. Ela lutou pela nossa cultura, pela cultura negra”, disse.
Durante o ato, a trabalhadora da educação Rosângela Castro também alertou que a reforma da Previdência é mais prejudicial às mulheres e que uma das mensagens do 1º de Maio tem que ser de luta pela igualdade.
“A eleição já acabou, não é tempo de polarização, é tempo de unificar. Temos que estar juntos, inclusive quem votou no Bolsonaro está arrependido. Todos nós seremos atingidos com a reforma da Previdência, as mulheres e professoras, principalmente, vão trabalhar mais 10 anos. Esse governo não leva em consideração que nós mulheres trabalhamos dentro e fora de casa. Temos que estar juntos para lutar contra mais esse retrocesso”, afirmou.
Ceará
Centrais sindicais, movimentos populares e entidades estudantis se reuniram na avenida Beira Mar, em Fortaleza (CE). A luta em defesa do direito à aposentadoria apareceu “casada” com a batalha pela libertação do ex-presidente.
Debaixo de chuva, manifestantes se reuniram na capital cearense no final da tarde. (Foto: Camila Garcia)
Depois de percorrerem a avenida, os trabalhadores participaram de um ato cultural em frente ao Centro Belchior.
Paraná
A luta contra a reforma da Previdência também foi a principal pauta neste 1° de maio em Curitiba e no interior paranaense.
Na capital, o tema apareceu estampado nas camisas, faixas e adesivos das centenas de participantes do ato, que aconteceu na Vila Torres.
O ato reúne o Comitê Unificado do Paraná em defesa da aposentadoria – estiveram presentes Pastoral Operária, PT, PCB, PSOL, PSTU, centrais sindicais e movimentos populares, entre eles o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Petroleiros também levaram suas pautas à manifestação em Curitiba. (Foto: Juliana Barbosa)
A atividade começou com a concentração com café da manhã, ato ecumênico e ato político com caminhada até o teatro Paiol, ciranda e o encerramento feito pelas pastorais.
Paraíba
Em Campina Grande (PB), a Praça da Bandeira foi palco de reivindicações desde o raiar do dia. Centenas de trabalhadores criticaram a PEC da Previdência do governo Bolsonaro e pediram soluções para o problema do desemprego.
Ato político na Praça da Bandeira, no interior da Paraíba. (Foto: Divulgação/MST)
Pernambuco
Na capital Recife e no interior, a juventude foi às ruas contra a reforma da Previdência e contra os ataques à educação promovidos pelo governo Bolsonaro. Conforme o relato de Rosa Amorim, integrante do Levante Popular da Juventude, o entendimento dos manifestantes é que, se a PEC for aprovada, os jovens ingressarão em um mercado de trabalho “sem direitos”.
A Praça do Derby, também no Recife, foi ponto de arrecadação da campanha Periferia Sem Fome, do MTST.
Mulheres foram protagonistas das manifestações na Praça do Derby. (Foto: Brasil de Fato Pernambuco)
Minas Gerais
O estado que foi vitimado pelos crimes socioambientais de Mariana (MG) e Brumadinho (MG) também reuniu centenas de manifestantes massivas na capital, Belo Horizonte (MG), e no interior.
Em Contagem (MG), depois da missa do trabalhador, que reuniu cerca de cinco mil pessoas, a população seguiu em marcha até a Praça do Trabalhador. Além de denunciar proposta de reforma da Previdência e ataques aos direitos promovidos pelo governo Bolsonaro,os manifestantes empunharam faixas com os dizeres “Lula Livre” e em apoio à greve geral que deve ser deflagrada em junho.
Trabalhadores protestaram contra o fim da aposentadoria em Minas Gerais. (Foto: Lidyane Ponciano/CUT Minas)
Rio Grande do Sul
Manifestantes de várias centrais sindicais iniciaram a concentração para o ato unificado às 15 horas, na região central da cidade. Eles pediram o fim dos ataques à Previdência Social e exigiram respostas da equipe econômica de Bolsonaro para o crescimento do desemprego.
Diversidade de cores demonstrou a união das centrais na capital gaúcha. (Foto: Katia Marko)
Pelo mundo
Brasileiros protestaram contra a reforma da Previdência e em favor da liberdade do ex-presidente Lula em dez cidades europeias. As manifestações ocorreram em Estocolmo, na Suécia, em Hamburgo, Berlim, Colônia e Munique, na Alemanha, em Barcelona, na Catalunha, em Lisboa, em Portugal, em Genebra, na Suíça, em Copenhague, na Dinamarca, e em Bruxelas, na Bélgica.
Na América do Norte, houve pelo menos duas manifestações de rua com as pautas da conjuntura brasileira neste Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores: na Cidade do México e em Nova Iorque.
Em Cuba, o 1º de Maio foi mais uma vez uma demonstração de força e compromisso, reunindo milhares de trabalhadores na capital Havana. Na pauta das mobilizações estava o apoio ao governo cubano e a defesa da pátria, diante de uma conjuntura de aprofundamento de ataques imperialistas à América Latina.
Bandeiras do Brasil e de Cuba apareceram lado a lado durante as manifestações em Havana. (Foto: Raíssa Lazarini)
Os manifestantes também manifestaram solidariedade ao governo Maduro e ao povo venezuelano, após mais uma tentativa de golpe, e exigiram a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
* Com informações da Rede Brasil Atual e dos correspondentes do Brasil de Fato pelo país. Colaborou Juca Guimarães.
Edição: Daniel Giovanaz