Ao receber o aviso-prévio, a Telemont/Oi lhe disse: vá cuidar da sua saúde e da sua aposentadoria!Na tarde desta quinta-feira, dia 22/05, acompanhado da esposa D. Luzia e da filha Maíra Bazzarela, o técnico cabista/ADSL, Carlos Brioschi Bazzarella, 56 anos, esteve no Sinttel para homologar a sua demissão, por meio da rescisão de contrato com a Telemont.

Carlos estava visivelmente emocionado e falando baixo devido a perda da capacidade respiratória, causada pelos anos de trabalho no subsolo das redes telefônicas na Grande Vitória. Demonstrava preocupação com a sua aposentadoria, pois ainda falta um tempo de contribuição ao INSS. Segundo ele, pouco mais de um ano.

O técnico contou que entrou na Telest em 1991. Passou pela Telemar, após a privatização das empresas estatais de telecomunicações, pela Vitel, Gecel e, por último, Telemont. As três últimas prestadoras de serviço para a Operadora Telemar/Oi. Foram 34 anos dedicados ao atendimento de usuários da telefonia fixa e móvel.

Ele conta que a condição dos trabalhadores foi piorando ano, após ano, depois da privatização. Quando saiu da Telemar para a Vitel, teve que arranjar um automóvel para poder trabalhar. Deixava de ser um empregado primarizado para ser terceirizado, tendo que arcar com o transporte (o carro) que era alugado para a prestadora de serviço. Foi nessa época que as Operadoras jogaram para as terceirizadas e estas para os trabalhadores a responsabilidade do negócio. O corpo técnico tinha que ter carro para se deslocar e levar os equipamentos e materiais como escadas, cabos, ferramentas até os locais de reparo ou instalações de telefones. Esse modelo que vigora até hoje, vem dando sinais da brutal exploração. A insatisfação dos trabalhadores é muito grande, não só com os salários miseráveis, mas com as condições impostas pelas empresas.

Em 2009 teve o carro furtado na área externa do Shopping Vitória, na Enseada do Suá. Estava no DG do Shopping fazendo um reparo. Ao sair não encontrou o seu veículo de trabalho. Dias depois o carro foi encontrado, mas completamente depenado. Sem conseguir recuperar o carro, passou dois anos trabalhando a pé.

Após o roubo do carro, a primeira coisa que a empresa fez foi suspender o aluguel e o combustível. Também negou-lhe o vale-transporte. Mesmo assim, Carlos saia de Goiabeiras, onde mora, e ia a pé até o DG da Praia do Canto. E foi com a ajuda de amigos, colegas, vizinhos e da comunidade que conseguiu recuperar o carro e voltar a trabalhar.

Desde o momento em que os trabalhadores da Gecel foram abasorvidos pela Telemont, em 2010, Carlos desempenha a função de ADSL, instando e reparando o Velox. Há um ano, foi transferido dessa função para a de cabista. Trabalhava na rua, reformando armários, subindo em postes, para reparos nas caixas aéreas.

Essa mudança afetou mais a sua saúde, pois durante os anos de trabalho perdeu 45% da audição. Hoje toma quatro tipos de remédios, mas sabe que a demissão não é um alívio. A demissão é um ato que dói, principalmente quando o trabalhador que dedicou toda a sua vida funcional é dispensado próximo da sua aposentadoria.

Carlos não tem estabilidade provisória porque está próximo da aposentadoria. O Acordo Coletivo de Trabalho com a Telemont não garante esse direito que muitos outros trabalhadores já conquistaram. Como a Convenção Coletiva das Prestadoras de Serviço em Telecomunicações, firmada com o Sinstal (Sindicato dessas empresas) e que vale para todo o Brasil, tem a Cláusula 34ª – trabalhadores em vias de aposentadoria – 12 meses de estabilidade provisória antes da aposentadoria.

A Telemont/Oi poderia adotar essa Convenção Coletiva de Trabalho do Sinstal, e o problema do Carlos Bazzarella estaria resolvido, mas ela se recusa. O motivo é que não teria que cumprir direitos e garantias maiores do que ela pratica.
Ou seja, se melhorar para os trabalhadores é ruim para a Telemont/Oi.