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Palestras analisam a economia e o mundo do trabalho no Encontro da Fenattel

09/08/2011 - 8h41 - Sinttel-ES - Tania Trento
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Os 218 trabalhadores e trabalhadoras presentes ao Encontro Nacional da Fenattel, na manhã de terça-feira (9), assistiram a duas importantes palestras: a primeira, com o técnico do Dieese, João Silvestre, e a segunda, com o assessor da Força Sindical e cientista político, João Guilherme Vargas Neto. Propondo-se a analisar a conjuntura nacional e apresentar as perspectivas para o movimento sindical dos trabalhadores, o economista Silvestre defendeu a ideia de que o Brasil, devidos as suas reservas cambiais, tem um espécie de colchão para enfrentar melhor a crise que outros países importantes estão vivendo, como na Europa e Estados Unidos.

Silvestre mostrou alguns indicadores que ajudaram os representantes dos trabalhadores a entender a trajetória da economia brasileira. Ele falou de desemprego, baseando-se na Pesquisa de Emprego e Desemprego do Diesse. Dentro dos resultados dessa pesquisa, que foi feita entre 2001 a 2010 o desemprego era de 20,8% em 2001. Com o passar de 10 anos, baixou-se o índice para 12%, em 2010.

Silvestre apresentou os três pilares que, na opinião do Diesse, hoje, fortalecem a nossa economia e que faz com que o Brasil seja visto de forma diferente diante dos problemas econômicos e financeiros mundiais.

“Os três fatores que dinamizaram a economia, foram o crédito, o investimento e a renda”, disse Silvestre.entretanto, ele afirmou que o emprego e a massa salarial cresceram, mas que a renda não cresceu na mesma proporção.

A explicação, segundo o técnico é que: “mesmo que se tenha mais gente trabalhando (carteira assinada), muitas dessas pessoas que entraram no mercado de trabalho, entram com um salário menor, devido a rotatividade, uma das responsáveis pelo não crescimento da mesma proporção no salário real médio. A terceirização também tem influência sobre esse indicador. Os trabalhadores têm conseguido ganhos acima da inflação. No entanto, quando se olha para o salário médio. Ele não cresce, mas em grande parte (emprego, massa salarial e salário médio) são responsáveis pelo aquecimento da economia brasileira. Somando a isso com o crédito e o investimento fecha a equação desse desenvolvimento da economia de forma sustentável. É o tripé de sustentação da economia no Brasil dos últimos 10 anos”, destacou Silvestre.

“Em 2001, o volume de crédito representava 24% do PIB (440 bilhões de reais). Em 2010 a participação no PIB foi de 40%. O crédito cresceu no PIB para 1,3 trilhões de reais”, disse Silvestre.

“Outro indicador que contribuiu foi o salário mínimo. Protagonismo dos trabalhadores com suas marchas que obrigou o governo a implantar uma política de valorização. O saláriomínimo cresceu 54% entre 2001 e 2010. Nenhuma categoria do setor privado teve um ganho real da ordem de 54%. É transferência de renda da produtividade da economia para o salário mínimo, que impacta 47 milhões de pessoas. Por isso, a política do salário mínimo é fundamental”, disse Silvestre.

Negociações

O Dieese acompanha as negociações no país e, em 2001, 52% delas nem zeraram a inflação. “O desempenho fraco do ano de 2003, o pior da série pesquisada, deveu-se à mudança do governo, de projeto político, com inflação alta batendo a casa de 20%. A taxa de câmbio disparou, o Dólar foi para quase R$ 4 e a taxa de juros (selic) chegou a 25%. Hoje é 12,25%. O reflexo no desempenho do PIB foi de 1%. O desemprego era de 20,8%. Isso tudo puxou para baixo os ganhos nessas negociações”, explicou o técnico, que mostrou a inversão dessa realidade em 2010, quando 89% das negociações salariais – acompanhadas pelo Dieese – conseguiram aumento real de salário.

Silvestre trouxe o perfil do setor de formal nas telecomunicações, considerando dados do MTE. Segundo o técnico, 42% dos trabalhadores estão em São Paulo, 16% Rio de Janeiro e 7% no Paraná. Seis unidades da federação detém 60% dos empregos formais nas telecomunicações, sendo 40% de mulheres e 60% homens. A metade dos trabalhadores do setor tem menos de 39 anos.

Ainda, segundo Silvestre, os empregos formais são corupados por trabalhadores de escolaridade elevada, acima da media nacional. “Ensino médio completo e superior completo e incompleto atingem quase que a totalidade da categoria. O salário médio é de R$ 1.500. Já no setor de tele atendimento, 85% ganham até R$ 1.050. A realidade desse setor é muito precarizada”, destacou.

O Governo Dilma e o Movimento Sindical

A segunda palestra foi feita pelo cientista político, João Guilherme de Vargas Neto. Ele traçou uma relação do movimento sindical brasileiro com o movimento sindical mundial em crise. Citou o Chile, em que são os estudantes que vão às ruas para lutar pelo ensino público de qualidade. “Os mineiros não estão fazendo movimento algum. Na Inglaterra, são os jovens despossuídos que estão indo às ruas contra a crise. No dia 3 de agosto, as centrais sindicais, menos a CUT, levaram 100 mil pessoas nas ruas em São Paulo. O movimento sindical brasileiro vem resistindo e conseguindo vantagens conjunturais e estratégicas com o governo Lula e Dilma”, disse.

Recuperar o protagonismo

“A meta simples do movimento sindical – que sintetiza a luta por hegemonia e o protagonismo socia -l é aumentar os salários. Os bens agregados da economia nacional – produto, renda e despesa têm de ser iguais. Uma vez produzida a riqueza e feita a despesa, alguém fica com a outra parte. Ou é a exploração ou o trabalho. Nos países desenvolvidos, o salário é 60% da renda sob forma de salário. Com o neoliberalismo isso chegou, no Brasil, a 33%. Um terço da renda nacional era salário e o resto são juros, dívida, etc.”, revelou João.

O cientista político analisa que “nos últimos seis anos os sindicatos recuperaram renda, passando de 30% para 40% do PIB, fruto do esforço do movimento sindical, num ritmo superior ao crescimento do próprio PIB”. Para ele, o movimento quer recuperar o seu protagonismo e precisa alinhar a sua pauta de reivindicações, à pauta dos anseios da sociedade”.

Ele dá exemplos a serem seguidos pelos sindicatos para incorporar a luta da sociedade: fim do fator previdenciário, as centrais sindicais unidas defendendo os 10% do PIB para a educação, o sindicato cidadão, que se disputa a hegemonia, e ser protagonista, se aproximando das lutas sociais.

Unidade de ação

Para João, no setor de Telecom, a unidade é a menina dos olhos. A diversidade construída para a existência da Fenattel é que vai produzir propostas políticas e ações que passem por todas as centrais.

“O nosso sindicalismo é forte em relação ao mundo. No dia do lançamento do Brasil Maior não havia trabalhadores lá. O governo deixou o movimento sindical de fora. Depois da marcha do dia 3 de agosto, a Dilma pediu desculpas ao movimento sindical por não ouvir os trabalhadores no projeto lançado para o desenvolvimento da indústria nacional. É assim que se faz a luta, com trabalhadores na rua, lutando pela melhoria das condições de vida”, finalizou.

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