LULA MARQUES/ AGPT
Manifestantes resistem à repressão: “O que o presidente Michel Temer quer é impor ao país a sua ditadura”
Brasília – Deputados pediram a convocação do Colégio de Líderes da Câmara – que discute pautas de votações e assuntos polêmicos – e o encerramento imediato da sessão plenária depois que receberam a notícia de que o Exército acaba de ocupar a Esplanada dos Ministérios. “Não temos mais condições de continuar com os trabalhos nesta Casa. Precisamos agir enquanto parlamentares. Isso não pode acontecer numa democracia”, afirmou há pouco o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ).
O ambiente, que parece mais um barril de pólvora, tomou proporções ainda maiores depois que chegaram informações de que, segundo o Palácio do Planalto, o pedido para chamar as Forças Armadas foi feito pelo presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Se houve esta solicitação, como podemos ter naturalidade nesta sessão?”, questionou Glauber Braga (Psol-RJ), depois de receber a confirmação por parte de Maia de que, de fato, ele fez a solicitação ao governo.
“Isso é gravíssimo. Não me lembro na minha vida de ter visto nem sequer no período da ditadura militar essa ocupação do Exército na Esplanada”, protestou o líder do PT, Carlos Zarattini (SP). “O que o presidente Michel Temer quer, depois da sua desmoralização política e pessoal, é impor ao país a sua ditadura. Um governo que não suporta uma manifestação é um governo que não tem condições de continuar. Não está sendo feito nenhum assalto ao poder e sim uma manifestação organizada pelo movimento sindical, que tem sido reprimida duramente”, acusou o líder.
A deputada Erika Kokay (PT-DF) afirmou que o país vive um regime de exceção. Segundo ela, enquanto os governistas insistem em dar continuidade à sessão plenária da Casa, o ambiente é de extrema tensão, em função da constatação de que há várias pessoas feridas – sendo pelo menos duas em estado grave – e a continuidade da repressão de forças policiais contra manifestantes que estão do lado de fora do Congresso.
“Estamos vendo pessoas sendo feridas lá fora, pelo simples direito de se manifestarem, isso não pode acontecer numa democracia. Enquanto isso, os que respondem pela presidência desta Casa insistem em agir como se nada está acontecendo”, reclamou a parlamentar.
Erika, assim como vários deputados, diz que se não conseguirem o encerramento da sessão vão obstruir todas as votações. O deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) apelou para a sua experiência parlamentar (ele é o decano do Congresso, aquele que possui maior número de mandatos como parlamentar). “Sei bem que os responsáveis pela mesa diretora desta Casa estão errados e o tempo irá mostrar isso. Não se consegue fazer andar trabalhos legislativos numa democracia, tendo um dia depois do outro reclamações e reclamações e uma crise política deste porte. Em vez de tentarmos debater o tema, se a Câmara continuar usando a estratégia de empurrar com a barriga vai ser pior. A história já nos mostrou que isso não dá certo”, alertou Miro Teixeira.
“Essa agressão e ataque à democracia não acontece somente em relação aos manifestantes, mas também consiste numa agressão ao Congresso. Estamos sendo agredidos. Parem para pensar”, protestou ainda Zarattini, que pediu ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, que é deputado federal, para cancelar a decisão e retirar as tropas do Exército das ruas.
Glauber Braga (Psol-RJ) também pediu aos integrantes da base aliada, que insistem em submeter as matérias da pauta à votação nesta quarta-feira (24). “Exigimos a instalação da comissão de impeachment e apuração de todas as denúncias que envolvem este presidente ilegítimo que aí está. Estávamos na manifestação e somos testemunhas dos atos de violência que estão sendo praticados contra os manifestantes”, ressaltou. De acordo com ele “não pensem que vão nos calar. O que o povo brasileiro quer é ‘Fora Temer’ e ‘Diretas Já'”.
(por Hylda Cavalcanti, da RBA publicado 24/05/2017 17h22)