Pode não parecer, mas os canais de rádio e televisão são concessões públicas. As emissoras não são donas desses veículos de comunicação. Elas apenas se servem do espectro eletromagnético, que é um bem do Estado, portanto, do povo brasileiro. Diz a Constituição Federal, no seu artigo 21: “compete à União explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens”.
O que se tem visto por muitos anos, e teve o seu ápice no domingo 13/03, é uma mídia liderada pelo Sistema Globo fazendo o papel de partido político. A TV Globo não fez apenas a cobertura de um evento. Ela convocou e, deliberadamente, permaneceu incitando a população à participar de uma manifestação cujo principal objetivo é a derrubada de um governo legalmente instituído.
O Sistema Globo sempre esteve associado ao golpismo. Em 1954, em campanha sórdida contra Getúlio Vargas, chamava o governo de corrupto e pedia a sua derrubada. O final da história, sabemos todos. Vargas deu um tiro no coração e, com este gesto, adiou por 10 anos o golpe. O suicídio do presidente acordou a população que, revoltada, atacou veículos e sedes de empresas de comunicação, dentre elas dos jornais O Globo e Tribuna da Imprensa, este liderado por Carlos Lacerda, outro que dormia e acordava pensando no golpe.
Na eleição de 1955, mais uma tentativa de golpe fomentada pelas Organizações Globo. A eleição de Juscelino Kubitschek foi questionada pela UDN, partido da direita na época, sob a alegação de que ele não havia obtido a maioria absoluta dos votos. Mas a regra não era essa, o general Henrique Lott garantiu a posse em 31 de janeiro de 1956 e a Globo perdeu mais uma vez.
Lamentavelmente, em 1964 a articulação de direita saiu vencedora. Quem deu apoio irrestrito? O Sistema Globo. Com o mesmo discurso de acabar com a corrupção foi estabelecida uma ditadura que durou 21 anos. O Sistema Globo recebeu seu prêmio pela participação decisiva no golpe. Em 1965 foi criada a TV Globo com o objetivo central de ser a porta-voz da ditadura militar.
Como afirma Karl Marx, a história se repete pela primeira vez como tragédia (a morte de Getúlio) e a segunda como farsa (a ditadura militar de 1964).
Hoje, vemos uma tentativa de aprofundar a farsa. Com a retórica de defender o moralismo e, mais uma vez, combater a corrupção, as Organizações Globo estão na linha de frente do verdadeiro projeto por trás desse discurso: entregar o pré-sal, acabar com a política de valorização do salário mínimo, acabar com os programas sociais que tiraram 40 milhões de brasileiro da linha da miséria nos últimos 13 anos. O golpe é contra a democracia, contra os direitos da classe trabalhadora e a favor da entrega do que ainda restou de estatais em nosso país.
O Instituto Telecom está ao lado de todos os democratas que defenderam e defendem a democracia. Estamos na campanha pela democratização da mídia e também na campanha Desliga a Globo que o Brasil melhora. Não ao golpe! A farsa não pode sair, mais uma vez, vitoriosa.
Artigo:
Nossa Opinião – Tragédia e farsa
Instituto Telecom, Terça-feira, 15 de março de 2016