As principais atividades do dia se iniciaram às 9h. No auditório da Fetag, o painel “Os desafios da classe trabalhadora diante da ofensiva neoliberal”, discutiu a reforma previdenciária proposta pelo governo Michel Temer (PMDB). Para uma das palestrantes da mesa, a doutora em economia e professora da UFRJ Denise Gentil, “esta reforma atende aos interesses de quatro grupos sociais: os bancos, os proprietários de títulos públicos, os burocratas e bancadas do Congresso”. Segundo ela, “a disponibilidade do governo federal no Banco Central do Brasil – Conta Única, em novembro de 2016, era próxima a R$ 1 trilhão líquidos”. “Vocês acham que este é um país que passa por crise fiscal? Este é um país riquíssimo”, provocou aos que acompanhavam a atividade.
Ao mesmo tempo, no Hotel Embaixador, no Centro, acontecia o debate “América Latina: que caminhos seguir?”, que contou com a participação de Oded Grajew e Chico Whitaker, idealizadores do primeiro Fórum Social Mundial, em 2001. Somaram-se a eles ativistas da Nicarágua, Venezuela, Peru, Bolívia, Chile, Argentina, Uruguai e Brasil. A roda de conversa, que se deu grande parte em portunhol, discutiu os rumos seguidos pela esquerda no continente e a necessidade de sair do Fórum das Resistências com um plano de trabalho para os próximos anos. A peruana Marisa Gave, foi enfática ao fazer uma crítica interna à esquerda: “fizemos tudo que podíamos? Eu acho que não. Nós nos consideramos anticapitalistas, mas não rompemos com ele”.
O movimento negro foi representado por grupos como o Fórum Nacional de Saúde Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana (Fonsanpotma). “Esses povos são um exemplo da resistência porque nós resistimos desde que botamos os pés neste país. Resistimos o tempo todo para manter a nossa identidade, a nossa memória, e hoje estamos resistindo contra todo esse retrocesso nos direitos humanos”, afirmou Bàbá Omi Luciano de Oxalá, coordenador da entidade.
Mais tarde, às 17h, iniciou-se concentração para a Marcha dos Povos em Resistência, no Largo Glênio Peres. Movimentos sindicais e sociais, assim como representantes de partidos políticos compareceram, representando diferentes causas. Entre os participantes, João Carlos Padilha, índio kaingang, reivindicava o reflorestamento e repudiava a indicação de Antônio Toninho Costa, pastor evangélico, para a presidência da Funai. Raul Pont, ex-prefeito e candidato nas últimas eleições para a Prefeitura da capital, citou a importância do fórum com o tema resistências, “visto que os movimentos não foram capazes de impedir que o governo golpista tomasse o poder e colocasse em prática essas medidas que afetarão negativamente o trabalhador” e terminou dizendo que “é hora de internacionalizar isso”.
O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, (CTB), Adilson Araújo, também participou da marcha e salientou a importância da resistência em tempos de retirada de direitos.
“A CTB se soma a esse Fórum nesse momento em que as forças conservadoras advogam a tese do desmonte do Estado nacional com o objetivo de acabar com a previdência pública, sacramentando o negociado sobre o legislado, colocando fim a CLT. É imprescindível que a gente tome as ruas. As centrais sindicais são responsáveis por conduzir um papel de ultraresistência para dizer não à essa agenda neoliberal e regressiva. Vamos juntos nessa caminhada pela democracia e pelo restabelecimento do Estado Democrático de Direito”, defendeu Adílson.
A marcha iniciou às 18h30 e trancou uma via da Av. Borges de Medeiros em direção ao Largo Zumbi dos Palmares, na Cidade Baixa, onde estava previsto acontecer ato cultural. Na chegada à Av. Loureiro da Silva, no entanto, a marcha se deparou com a Feira Modelo, que acontece todas às terças no local. Segundo a organização do evento, os feirantes deveriam liberar o local às 19h para dar lugar à programação do fórum, o que acabou não acontecendo. Depois de cerca de uma hora na Rua José do Patrocínio, a marcha acabou por dispersar. As atividades continuam nesta terça-feira, confira a programação.
O Fórum Social das Resistências é um espaço que ocorre dentro dos marcos do Fórum Social Mundial e foi idealizado como um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, que também começou nesta terça-feira (17) em Davos, na Suíça. “Aqui em Porto Alegre, no início de 2017, vamos começar a demarcar a nossa contrariedade sobre tudo o que está acontecendo. O Fórum é uma oportunidade de as organizações se fortalecerem, se encontrarem, fazerem combinações e aprofundarem os laços de solidariedade na ação de resistência”, afirmou Claudir Nespolo, presidente da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS).
Com Sul 21 e Agência Brasil