Movimentos populares farão, no primeiro semestre de 2018, uma atividade inédita na cena política e social brasileira: o Congresso do Povo Brasileiro. A ideia parte do objetivo de “construir com o povo e para o povo um projeto de nação”. A proposta foi anunciada neste fim de semana durante a 2ª Conferência Nacional da Frente Brasil Popular (FBP), realizada na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema, no interior paulista.
O congresso terá diversas etapas, partindo de organizações de bairro, encontros municipais e estaduais até chegar à etapa nacional. “Nós vamos fazer uma mobilização ampla, com reuniões que acontecerão nos salões paroquiais, nos ginásios e escolas para discutir a situação em que o povo está vivendo e quem são os culpados desse quadro”, disse João Pedro Stédile, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em entrevista à comunicação da FBP.
Para a frente, a transformação do país em uma “nação forte, independente, soberana e desenvolvida” depende da participação organizada da classe trabalhadora. O congresso é considerado inédito por sua amplitude, tendo em vista que contará com a mobilização de movimentos populares em todo o país, bem como pela perspectiva de que o povo está sendo chamado a construir “com as suas próprias mãos o projeto que busca o desenvolvimento do Brasil”.
O objetivo da FBP é que o Congresso do Povo Brasileiro possa incidir na disputa eleitoral ao mesmo tempo em que construa uma agenda de mobilização e de formação da sociedade brasileira. “Nós vamos aprovar um projeto unificado para comprometer todos os candidatos do campo democrático com uma plataforma mínima num projeto amplo e com princípios firmes que tenha no centro o compromisso com a retomada das conquistas democráticas, com um Estado que garanta desenvolvimento, educação pública, ciência e tecnologia”, explicou Nalu Faria, da Marcha Mundial de Mulheres, em entrevista à comunicação da FBP.
Conferência
A 2ª Conferência Nacional da Frente Brasil Popular (FBP) teve início nesta sexta-feira (8), com a realização de um ato político-cultural em solidariedade à Venezuela, na sede do Sindicato dos Jornalistas.
No sábado (9) pela manhã, em Guararema, a mesa sobre a análise de conjuntura nacional e internacional teve a participação da presidenta do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann; Ricardo Gebrim, da Consulta Popular; e Valter Sorrentino, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
Em sua fala, Hoffmann apontou para o que considera primordial para a construção de um projeto que consiga responder às angústias de várias parcelas da sociedade, ou seja, um projeto popular, progressista e de inclusão. Para ela, mesmo que política esteja sendo alvo de uma campanha intensiva de desconstrução, é preciso buscar ferramentas para politizar a população.
“A única governabilidade que nós temos é a certeza que nós podemos lutar. Eu acho que a gente tem que ir pra cima. As eleições não respondem tudo mas ela são um momento importante também de mobilização da população brasileira. Eu volto a insistir na construção dos comitês populares para agora e para depois”, disse.
Já Ricardo Gebrim, apontou para as dificuldades “rotativas” dos movimentos em retomar as grandes mobilizações e de entender certos setores da sociedade, como o de serviços, para fazer a disputa ideológica, política e econômica. Para tanto, destacou a importância da iniciativa do Congresso do Povo. “Que ele seja o elemento de concretização, uma força social necessária para resolver esta questão tática que todos nós estamos percebendo. há nuances, há leituras diferenciadas, mas todos nós temos clareza que é preciso uma forma clara e concentrada, com elementos táticos precisos para interferir neste ano”, disse.
A tarde do sábado foi dedicada ao debate sobre “Os desafios políticos da Frente brasil Popular”. Desta vez, participaram Sérgio Nobre, da Central única dos Trabalhadores (CUT), Mariana Dias; da União Nacional dos Estudantes (UNE); Raimundo Bonfim, da Central dos Movimentos Populares (CMP); João Pedro Stedile, do Movimentos das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Nalu Farias, da Marcha Mundial de Mulheres e Adilson Araújo; da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Stedile elencou três desafios, em complemento aos até então apresentados pela mesa. Primeiramente, ele chamou a atenção para o desafio de mobilizar a classe trabalhadora que mora das periferias. “A esquerda não está chegando na periferia, só chega o PCC e os evangélicos, que poderiam se tornar evangélicos de esquerda”, disse.
O segundo desafio que enfatizou é a necessidade da esquerda de fazer uma autocrítica do seu modo de fazer política. “Nós temos que dizer para os partidos e para os nossos candidatos: ‘não é discurso que faz voto’. Nós não vamos ganhar este pessoal com discurso”, disse; lembrando sua participação em atividades políticas neste ano. O terceiro desafio apontado por ele foi a questão da formação política. “Nós temos que aproveitar este período para formar militantes. Como é que se forma militante? Com a práxis, com a teoria e a prática. Este é o tempo de nós rejuvenescermos”, disse.
No domingo (10), os presentes debateram sobre os “Desafios da elaboração programática e da construção de uma narrativa hegemônica. Participaram Joaquim Soriano, da Fundação Perseu Abramo (FPA); Renato Rabelo; da Fundação Grabois; e José Moroni, do Projeto Brasil Popular.
Futuro
No final da atividade, mais de 350 militantes de movimentos e entidades finalizaram a Declaração Política da 2ª Conferência Nacional da FBP que, em síntese, apontou “Construir com o povo e para o povo um projeto de nação”.
A íntegra do documento você pode conferir aqui.
Redação Brasil de Fato | São Paulo (SP)