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Chamem as meninas

27/03/2015 - 9h42 - Sinttel-ES - Tania Trento
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A presença de mulheres em cargos de direção reduz a probabilidade de fraudes, sugerem algumas pesquisas

Mulheres

Segundo pesquisa, a composição, em termos de gênero, dos profissionais da diretoria de uma empresa afeta a forma como todo grupo toma decisões

Se acreditarmos que a arte representa a realidade e filmes constituem um retrato, apesar de imperfeito, de atitudes e comportamentos, então não há dúvida de que o mundo das fraudes corporativas é um domínio masculino. Exemplos não faltam, com ampla variedade de vigaristas e trapaceiros.

Wall Street, de 1987, dirigido por Oliver Stone, traz Michael Douglas como o lendário Gordon Gekko, filósofo da ganância, rei da informação privilegiada e mestre da arte do enriquecimento fácil e ilícito. Others People’s Money, de 1991, dirigido por Norman Jewison, tem Danny DeVito como Lawrence “Larry the Liquidator” Garfield, uma ave de rapina que busca vítimas entre empresas da economia real.

Rogue Trader, de 1999, dirigido por James Dearden, baseado em história real, traz Ewan McGregor como Nick Leeson, um investidor jovem e “brilhante”, cujas estripulias maravilharam seus chefes e levaram o mais antigo banco de investimentos britânico à bancarrota. Boiler Room, de 2000, dirigido por Ben Younger, com Giovanni Ribisi, Vin Diesel e Ben Affleck, retrata as façanhas de um grupo de jovens corretores que mentem, chantageiam e roubam para ganhar o primeiro milhão de dólares, enquanto vendem ações sem valor a vítimas desavisadas.

Margin Call, de 2011, dirigido por J. C. Chandor e estrelado por Kevin Spacey, Paul Bettany, Jeremy Irons e Zachary Quinto, disseca a lógica perversa por detrás das operações de uma instituição financeira em crise. The Wolf of Wall Street, de 2013, dirigido por Martin Scorsese, com Leonardo DiCaprio, narra as peripécias amorais e fraudulentas de Jordan Belfort, corretor de valores que atuou com sucesso até ser desmascarado e processado.

Todos esses filmes narram histórias de meninos ambiciosos e agressivos, lutando por dinheiro e poder. A maciça presença masculina pode ser bem mais que mera coincidência.

Agora, das telas para a vida real. Gillian B. White, escrevendo para o web­site da revista The Atlantic em fevereiro, trata da importância do papel do chief financial officer (CFO), ou diretor-financeiro, no combate a fraudes. O autor comenta estudo realizado pela empresa de auditoria e consultoria Ernst & Young, em 2012. Cerca de 15% dos CFOs admitiram que cometeriam fraudes para ganhar negócios. E o resultado pode ser apenas a ponta do iceberg. A mesma pesquisa indicou que 39% dos respondentes consideravam as práticas de suborno e corrupção frequentes em seus países. Entre os brasileiros, o porcentual foi de 84%. Nenhuma surpresa!

A prevenção de fraudes e comportamentos desviantes é amplamente estudada nos campos da contabilidade, das finanças, do direito e da administração geral. A regulação e as práticas de governança corporativa evoluíram significativamente nos últimos anos. Entretanto, a ganância parece ter crescido e a arte de assenhorear-se fraudulentamente de bens alheios também evoluiu.

White comenta um estudo realizado por Ya-Wen Yang e Andrea Kelton, da Wake Forest University, e Allison Evans, da University of North Carolina, que explora outra dimensão do combate à fraude, a da presença feminina na gestão financeira e na diretoria de empresas. Com base em uma análise de dados de 1991 a 2011, as autoras concluíram que mulheres são menos propensas do que homens a participar de esquemas de evasão fiscal.

A composição, em termos de gênero, dos profissionais da diretoria de uma empresa afeta a forma como o grupo toma decisões, concluíram pesquisas anteriores. “As mulheres são mais orientadas pelo desejo de crescimento e desenvolvimento, enquanto homens são geralmente guiados pela busca do dinheiro e do poder, o que pode levar os últimos a tomar decisões baseadas estritamente em raciocínios econômicos em lugar de outros fatores, tais como senso de justiça e de decoro”, observa White.

O trabalho de Yang, Kelton e Evans também sugere que ter uma mulher em um cargo de liderança provavelmente não será suficiente para garantir comportamentos éticos. Isso ocorre porque minorias podem ser alienadas ou ignoradas em processos fechados de tomada de decisão. É preciso ter uma massa crítica superior a 30% de mulheres para influenciar positivamente o comportamento do grupo.

por Thomaz Wood Jr. — Carta Capital

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