Qualquer comparação minimamente objetiva dos governos tucanos e petistas – dos candidatos que representam a um e a outro – permitiriam prever uma vitória eleitoral ainda mais fácil do governo neste ano. Ninguem duvida dos resultados dessa comparação, ainda mais que o candidato tucano reivindica a mesma equipe econômica de FHC e seu gurú econômico repete os mesmos dogmas que levaram os tucanos a nunca mais ganharem eleição nacional no Brasil depois que essa equipe governou o pais. Enquanto a candidata do governo representa a continuidade do projeto que transformou positivamente o Brasil desde 2003 e seu aprofundamento. No entanto, as pesquisas e o clima político e econômico mostram um cenário um pouco diferente. Somente o nível de rejeição que as pesquisas – maquiadas ou não – da Dilma e do governo – o dobro da rejeição de Aecio, segundo as pesquisas – já revela que outrosfatores contam para entender as opiniões das pessoas.
Para um tecnocrata, para uma visão economicista ou positivista da realidade, a consciência é produto direto da realidade objetiva. Basta transformar a esta, que as pessoas se darão conta das mudanças e do seu significado. Não levam em conta o papel fundamental da intermediação que exercem os meios de comunicação. A realidade concreta chega às pessoas através das representações dessa realidade, processo em que a mídia exerce um papel determinante. Essa visão ingênua não entende o que é a ideologia e como a fabricação dos consensos pela mídia monopolista atua.
A mídia conseguiu fabricar consensos como os de que a Dilma seria uma presidente incompetente, o governo seria corrupto, a política econômica fundamentalmente equivocada e a Petrobrás um problema, a inflação descontrolada, a economia estagnada e sem possibilidade de voltar a crescer. Por mais que se possa, racionalmente, desmentir cada uma dessas afirmações, são elas que permeiam os meios de comunicação e formam parte da opinião pública, contaminada pelo terrorismo em que aposta a oposição politica e seu partido – a mídia.
Uma política de comunicações desastrosa por parte do governo é responsável por esse clima, que coloca em risco a continuidade do projeto democrático e popular que o povo escolheu como seu em três eleições presidenciais. O governo ficou inerte diante da criação desse clima e o que poderia dizer ficou neutralizado porque o governo não avançou em nada na democratização dos meios de comunicação. É uma atitude grave, porque alimenta uma oposição derrotada, que se apoia no monopólio privado dos meios de comunicação para desgastar o governo, sem que este reaja.
É equivocada a alternativa entre uma imprensa barulhenta – que diga o que bem entenda – ou uma mídia calada. Esta era a alternativa durante a ditadura. Na democracia a alternativa é entre uma mídia monopolista, que só propaga a voz dos seus donos ou mídia democrática, pluralista. Ao não avançar na democratização dos processos de formação da opinião publica, o governo colocar em risco todos os avanços acumulados desde 2003.
Não por acaso os votos duros de apoio do governo – os mais pobres, os do nordeste – são os menos afetados pela influência da mídia, são aqueles influenciados assim diretamente pelos efeitos das políticas sociais do governo. E os setores de classe média das grandes cidades são os mais afetados.
O Brasil não será um país democrático, por mais que avancemos na diminuição das desigualdades sociais, se somente uma ínfima minoria pode influenciar sobre a opinião dos outros, impor os temas que lhes pareçam do seu interesse como agenda nacional, difundam o tempo todo suas opiniões. Não será democrático enquanto as pessoas possam ter acessos a bens indispensáveis, mas não possam dizer a todos os outros o que pensam. Senão seria perpetuar a divisão entre os que trabalham, produzem, vivem no limite das suas necessidades, por um lado, enquanto por outro lado estão os que, pelo poder do dinheiro, podem ocupar os espaços de formação de opinião pública, podem influenciar os outros, impunemente.
A razão pela qual um governo que promove os direitos da grande maioria da população, até aqui excluída, tem tantas dificuldades para traduzir esses avanços numa clara maioria politica, é a mídia, é a mídia.