Vaquinha
Uma “Ação Entre Amigos” está rolando nos grupos do Telegram entre os trabalhadores da Telemont Engenharia de Telecomunicações. O card pede a colaboração em dinheiro para ajudar a consertar o Prisma de um colega que teve um carro roubado num assalto a mão armada e depois destruído por bandidos.
A campanha solidária revela que o trabalhador não tem como consertar o automóvel e, sem ele, não consegue trabalhar. A situação evidencia o quanto é difícil para os empregados de Telecom trabalhar no setor, sem conseguir fazer um seguro total do veículo.
Wagner Genivaldo dos Santos foi rendido na segunda-feira, 01/02, quando deixara a base da empresa, em Vila Capixaba, Cariacica. Os assaltantes levaram o seu ganha-pão, um Prisma, cor prata. A Polícia Militar foi acionada e localizou o carro e os bandidos em Mucuri, também em Cariacica. Houve uma perseguição com troca de tiros e os assaltantes jogaram o carro de Wagner sobre o carro da PM. O para-brisa e o vidro traseiro foram cravados de balas. A frente do carro foi detonada, entre outras avarias.
Resultado: Wagner, a vítima, foi também quem mais se prejudicou. Ele não fez o seguro total do veículo, mas somente o que a empresa exige, para cobrir prejuízos com Terceiros, assim como a maioria dos colegas que alugam os carros para a empresa. Essa é a condição para conseguirem trabalhar nas prestadoras de serviços e nas empresas que oferecem acesso à internet.
No caso deste trabalhador da Telemont, apesar de ter uma parte desse aluguel pago pelo carro agregado destinado à manutenção dos veículos, o valor não compensa. Não cobre tudo que precisa para um veículo que roda o dia inteiro, para baixo e para cima, em todos os bairros e crocas, com ruas, na maioria das vezes esburacadas, sem asfalto, calçamento e de terra batida para dar conta de atender os reparos e instalações de novos serviços.
O valor do contrato pago na Telemont é de R$ 866,32. Desse valor, 70% (R$ 606,42) é referente ao aluguel e 30% (R$ 259,90) é o “ressarcimento dos custos de depreciação de manutenção do veículo” e, uau!, dá direito à quilometragem livre.
Um pneu custa em média R$ 300. Por rodar muito, os pneus desagastam muito, também. Os técnicos precisam trocar os pneus, pelo menos uma vez por ano. Essa despesa não sai por menos de R$ 1200 a R$ 1500 dependendo do veículo. E aí soma-se revisões na suspensão, câmbio, embreagem e sistema de freio que mais desgastam.
Dentro do valor do contrato de aluguel, por ano, os 30% destinados à manutenção somará R$ 3.108,00 para manter o veículo funcionando, conforme exige a empresa. Desse total, só com pneus vai a metade. A outra metade não será suficiente para a troca de peças, balanceamento, alinhamento, oficinas, além do licenciamento e impostos (IPVA). Óbvio que não sobra para arcar com o seguro total.
Esse é o “custo do trabalho” sendo transferido para o trabalhador. Antes era a empresa que cedia carro. Era ela quem mantinha o carro, que fazia o seguro total, na cor, ano de fabricação e modelo específicos.
Este é o problema: o trabalhador precisa fazer um investimento, muitas das vezes sem ter condições para isso, para que as empresas possam prestar serviços para as contratadas ou para instalar internet banda larga.
Wagner está trabalhando em dupla, até a empresa ceda um carro. Enquanto isso, a vaquinha dos colegas parece ser a única solução.