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32 brasileiros se matam por dia

Agronegócio concentra as maiores taxas de suicídio entre trabalhadores

02/09/2019 - 16h16 - Sinttel-ES - Tania Trento
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Setembro Amarelo é uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio, iniciada em 2015. É uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O mês de setembro foi escolhido para a campanha porque, desde 2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, por iniciativa da International Association for Suicide Prevention. A ideia é promover eventos que abram espaço para debates sobre suicídio e divulgar o tema alertando a população sobre a importância de sua discussão.Durante o mês da campanha, costuma-se iluminar locais públicos com a cor amarela.

No Brasil, o suicídio é considerado um problema de saúde pública e sua ocorrência tem aumentado muito entre jovens. De acordo com números oficiais, 32 brasileiros se matam por dia em média, sendo essa uma taxa maior do que a de vítimas de AIDS e da maioria dos tipos de câncer. De acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2014, o Brasil está em oitavo dentre os países com maior número de suicídios, atrás de Índia, China, Estados Unidos, Rússia, Japão, Coreia do Sul e Paquistão. O Rio Grande do Sul tem a maior taxa, com 10,2 suicídios por cem mil habitantes, seguido de Roraima, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, conforme levantamento do Ministério da Saúde abarcando o período de 2006 a 2010.

No mundo, o suicídio é a terceira causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos e a sétima causa de morte de crianças entre 10 e 14 anos de idade.  A OMS também afirma que o suicídio tem prevenção em 90 porcento dos casos. Entretanto, um estudo brasileiro de Bertolote et al (2002) afirma que 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais, diagnosticados ou não, tratados incorretamente ou não tratados de maneira alguma. 

Agronegócio concentra as maiores taxas de suicídio entre trabalhadores

Segundo o Boletim da UFBA, o suicídio é menos frequente em homens e mulheres na faixa etária a partir dos 25 anos até 36-45 anos. E maior entre aqueles com maior idade. No entanto, é mais comum entre as trabalhadoras mais jovens, que nem chegaram aos 25

(Foto: Foto: Agência Brasil)

Segundo os autores do artigo, a perda do emprego e o desemprego prolongado levam ao desalento, à depressão e outros transtornos, que por sua vez levam a pessoa a tirar a própria vida. Além disso, condições de trabalho e emprego específicas, que levam ao  estresse psicológico no trabalho, como violência e assédio, ou mesmo o contato com substâncias químicas que produzem alterações endócrinas no funcionamento neuroquímico, podem também desencadear transtornos mentais ou neurológicos que evoluem para o suicídio.

Segundo o Boletim, o suicídio é menos frequente em homens e mulheres na faixa etária a partir dos 25 anos até 36-45 anos. E maior entre aqueles com maior idade. No entanto, é mais comum entre as trabalhadoras mais jovens, que nem chegaram aos 25.

Ainda não há um consenso sobre as causas desse fenômeno complexo e multifatorial, que afeta de maneira perversa também os amigos e familiares. Do que se sabe atualmente, entre as explicações estão  a baixa renda, a instabilidade no emprego, pressão por produtividade, acesso limitado à educação e aos serviços de saúde de qualidade.

Agrotóxicos

No entanto, resultados de diversos estudos sugerem que a exposição a substâncias químicas, presentes nos agrotóxicos, pode ser uma causa importante. Muitas delas, por sua ação no sistema nervoso central ou desreguladora do sistema endocrinológico, estão associadas ao aparecimento da depressão, ansiedade e doenças neurodegenerativas, entre outros transtornos mentais causadores do suicídio.

“É necessário mencionar que algumas ocupações, ao facilitar o acesso a venenos que podem ser letais, permitem circunstâncias favorecedoras do suicídio”, destacam os autores do Boletim.

A associação entre trabalho na agropecuária e suicídio não é exclusiva do Brasil. Em várias regiões do mundo, estudos confirmam essa relação. É o caso de uma comparação entre todas as pesquisas de alta qualidade publicada em 2018 por pesquisadores do Instituto de Pesquisa em Saúde, Ambiente e Trabalho da Universidade Rennes 1, da França.

A proteção da exposição a agrotóxicos, como exercício do princípio da precaução, é recomendada por estudiosos, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelas Nações Unidas (ONU), que recomendam a eliminação do uso dessas substâncias e a transição para práticas agroecológicas, fundamentadas na sustentabilidade.

“A mortalidade por suicídio em trabalhadores da agropecuária foi estimada em 16,6 x 100.000 em 2007, aumentou para 18,6 em 2011 e saltou 20,5 em 2015. Isso representa o dobro da média nacional em cada ano. Em comparação, trabalhadores da indústria tiveram 10,8, 11,8 e 14,2 x 100.000 em cada ano, valores mais próximos das estimativas nacionais, com cerca de 20% de diferença. É a expressão do genocídio do agronegócio”, afirma a médica Raquel Rigotto, professora e pesquisadora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenadora do Núcleo Tramas – Trabalho, Meio Ambiente e Saúde.

 



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