São Paulo – A manifestação, ou marcha, que seis centrais sindicais realizaram nesta quarta-feira (9) não pretende ser um ato contra o governo, afirmam seus representantes. É antes uma cobrança, extensiva ao Parlamento, sobre o não atendimento de uma série de reivindicações, pelo menos uma com quase duas décadas de espera, caso da proposta de redução da jornada de trabalho. Mas isso não impede os dirigentes de criticar o governo Dilma Rousseff, e um deles defender explicitamente o chamado “Volta, Lula”.
Líderes da CGTB, CTB, CUT, Força Sindical, Nova Central e UGT se reuniram hoje (7) na sede da UGT, na região central de São Paulo, para discutir detalhes e divulgar o ato de quarta-feira, que deverá sair às 10h da Praça da Sé, também no centro paulistano, em direção ao vão livre do Masp, na avenida Paulista. Eles esperam reunir 50 mil pessoas.
A pauta é extensa. Inclui, entre outros itens, fim do fator previdenciário, redução da jornada para 40 horas semanais, arquivamento do Projeto de Lei 4.330, sobre terceirização, regulamentação das convenções 151 (direito de greve e negociação coletiva no setor público) e 158 (contra demissão imotivada) da Organização Internacional do Trabalho (OIT), correção da tabela do Imposto de Renda, reajuste das aposentadorias, mais investimentos em saúde, educação e segurança e melhoria do transporte pública. Parte foi apresentada ainda em 2010, outro ano eleitoral, o que reforça o viés político da atividade.
“Estamos crescendo, talvez não na velocidade que gostaríamos, mas crescendo e ampliando a democracia. Vamos à rua não contra ninguém, mas pela agenda e para o Brasil continuar crescendo”, diz o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre. “A marcha não é contra ninguém, é em defesa da classe trabalhadora. Vamos cobrar de todas as esferas de poder e também do empresariado.” Segundo ele, as centrais também estão solicitando audiências com Dilma e com os presidentes do Senado, da Câmara e do Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Entendimento“Essa pauta foi praticamente construída em 2010. De lá para cá, por mais que o movimento sindical tente, se avançou muito pouco ou praticamente nada”, afirma o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, que vê pouca ação do Executivo para estimular a economia, especialmente no setor industrial. “Não estamos sentindo do governo as reações necessárias. A marcha não termina no dia 9”, acrescenta Miguel, anunciando outras manifestações pelo país, e especialmente em Brasília. “Temos uma pauta dentro do Congresso que não é colocada para votar.”
A Força é uma central que se manifesta contra a reeleição de Dilma. Isso já acontecia desde a marcha do ano passado, em Brasília, quando o presidente da central ainda era o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que agora se dedica à organização do partido Solidariedade. Mas os sindicalistas afirmam que, na quarta-feira, a ideia é fazer uma manifestação conjunta, independentemente de preferências eleitorais. “Acho que a unidade das centrais está acima da questão partidária. A ideia é fortalecer esse entendimento entre as centrais”, diz Miguel.
“É um ato político-trabalhista, não politico-partidário”, define o presidente da Nova Central, José Calixto. “Se não fosse assim, eu não estaria aqui”, acrescenta. “Queremos mostrar também que sabemos, de forma ordeira, juntar os trabalhadores das mais variadas opiniões.” Ele também aponta dificuldades no Congresso, dando como exemplo a votação sobre a Convenção 158. “Tomamos um banho na Comissão de Trabalho (da Câmara)”, lembra. E reservou críticas à presidenta. “Ela praticamente não nos recebeu. Com o presidente Lula, tínhamos muitas reuniões. Nem a Secretaria-Geral (da Presidência da República) nos recebe mais.”
O ataque mais incisivo parte do presidente da CGTB, Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira. “A questão principal é ter uma política de desenvolvimento. Não vai se resolver o problema do Brasil com desoneração da folha de pagamento”, afirma, defendendo políticas para que o Brasil volte a crescer “como na época do presidente Lula”. À saída, Bira comentou que seria “outra conversa” no caso de uma candidatura do ex-presidente. “Mas com Dilma não dá mais.”
O presidente da CTB, Adilson Araújo, lembrou que o atual governo chegou a iniciar uma política de redução de juros e combate ao spread bancário, mas interrompeu esse processo há um ano, quando a taxa básica voltou a subir e foram adotadas medidas “extremamente conservadoras”, segundo ele. “A pressão exercida pelo mercado tem deixado o governo bastante suscetível”, avalia. “Há um equívoco profundo nas políticas macroeconômicas. O superávit (primário) compromete mudanças e pode levar à estagnação. A tributação é perversa, principalmente para quem ganha pouco. O governo deveria taxar as grandes fortunas e radicalizar com quem ganhou muito e investe pouco.”
O secretário-geral da CUT destacou a importância da implementação de políticas sociais, na última década, para a manutenção do crescimento, com distribuição de renda. “A Europa adotou políticas conservadoras e está colhendo os resultados, contra os trabalhadores. O Brasil só cresceu porque resolveu enfrentar a pobreza e promover a inclusão social. O caminho do crescimento e não a política de aumento de juros.”
O presidente da UGT, Ricardo Patah, anfitrião do encontro, ressaltou a necessidade de convergência das centrais. “Foi a unidade que trouxe a política de valorização do salário mínimo”, lembrou, apontando ainda certa má vontade da imprensa em relação ao movimento sindical brasileiro. “A média mundial de sindicalização é 7%. Estamos chegando a 20%”, comparou. Ele deu outro exemplo de resultado positivo decorrente da articulação entre as centrais: a eleição do brasileiro João Felício, ex-presidente da CUT, para o comando da Confederação Sindical Internacional (CSI). A aprovação do nome saiu na semana passada, durante reunião em Bruxelas, e será referendada em maio, em Berlim, na reunião do conselho geral da entidade.