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Stedile: Depois da queda do Temer, precisamos de Diretas Já e um plano popular de emergência!

18/05/2017 - 15h45 - Sinttel-ES - Tania Trento
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Entrevista de João Pedro Stedile, do MST e da Frente Brasil Popular, para Joana Tavares, do Jornal Brasil de Fato (MG), Belo Horizonte, 18 de maio 2017

1.- Qual o interesse da globo em divulgar esses áudios e por que eles insistem em eleições indiretas?

João Pedro Stedile

A Rede Globo se transformou no principal partido da burguesia brasileira(PBB). Ela cuida dos interesses do capital, utilizando sua força de manipulação da opinião pública e articulando os setores ideológicos da burguesia, ou seja, o poder judiciário, alguns procuradores, a imprensa em geral, etc. Eles sabem que o Brasil (e o mundo) vive uma grave crise econômica, social e ambiental causada pelo modus operandi do capitalismo. E isso aqui no Brasil se transformou numa crise política, porque a burguesia precisava ter hegemonia no Congresso e no Governo Federal, para poder aplicar um plano de jogar todo o peso da saída da crise sobre a classe trabalhadora. Por tanto, a Globo é a mentora e gestora do golpe.

Porém, a saída Temer foi um tiro no pé, já que a sua turma, como revelou o próprio Eduardo Cunha, era um bando de lúmpens, oportunistas e corruptos, que não estavam preocupados com um projeto burguês de país, mas apenas com seus bolsos.

A operação carne fraca foi um tiro no pé, que ajudou a desacreditar essa turma do PMDB, pois vários deles estavam envolvidos e provocaram um setor da burguesia agro-exportadora.

Agora, eles precisam construir uma alternativa ao Temer. A forma dele sair se decidirá nas próximas horas e dias, se por renúncia, processo no STF, se cassam no TSE ou, mesmo, aceleram o pedido de impeachment no Congresso.

E nas próximas semanas decidiremos quem colocar no lugar.

Muitos fatores incidirão e o resultado não será algum plano maquiavélico de algum setor, mesmo da Globo, mas será resultado da luta de classes real, de como as classes se comportarão nas próximas horas, dias e semanas.

2.- Como se organiza o campo golpista?

O campo golpista está dividido desde 2014. E isso nos ajuda. Porque nos golpes anteriores, de 1964, e depois no governo FHC de 1994, a burguesia estava unida, tinha um comando único, tinha um projeto de país e tinha uma retaguarda importante no capital estadunidense. Agora, eles não tem projeto para o país. Perderam a retaguarda gringa, pois se alinhavam com a Hilary Clinton. Querem salvar apenas seus interesses econômicos particulares. Como disse o sociólogo tucano Jose de souza martins “as reformas da Previdência e Trabalhista são medidas capitalistas, que aumentam a exploração dos trabalhadores, mas são contraditórias com um projeto capitalista de país”.

Eles não tem o comando único. Estão divididos entre o poder econômico (Meireles, JBS) o grupo dos lúmpens do PMDB (Jucá, Padilha, Temer, Moreira Franco …), que tem o poder das leis, e começam a ter fissuras, como o caso do Renan. E o grupo ideológico da Globo-Poder Judiciário. Há muitas contradições internas entre eles.

E por isso também eles não tem claro, agora, quem colocar no lugar do Temer. O ideal para eles seria inviabilizar o Lula, ter um governo de transição, que fosse aceita pela maioria da população, que poderia até ser a Ministra do STF Carmen Lúcia, até outubro de 18, e aí tentar ganhar as eleições.

Porém, essa divisão aparece também nas candidaturas deles, ainda não conseguiram construir um FHC, um Collor. Estão tateando para opinião pública apresentando o Dória, o Hulk, etc.

Mas eles sabem pelas pesquisas de opinião pública, que são inviáveis e só adiaria ainda mais a crise política.

3.- O que os trabalhadores e organizações populares podem fazer neste momento?

Nós estamos debatendo já, desde o ano passado, no âmbito dos mais de 80 movimentos populares e organizações políticas que fazem parte da Frente Brasil Popular, de que as saídas que interessam para classe trabalhadora, são um conjunto de medidas complementares. Primeiro, afastar os golpistas e suspender todas as medidas legislativas que vem tramando contra o povo. Depois, ter um governo de transição, que convoque as eleições presidenciais para outubro de 17. E que se discuta uma forma de fazer uma reforma política imediata, que garanta a vontade do povo e se eleja um novo congresso. E o novo governo, assuma o compromisso, já em campanha de convocar para 2018 uma Assembleia Constituinte Exclusiva, à parte do Congresso, para construir um novo modelo democrático de regime político-eleitoral no país.

Paralelamente a isso, construímos um PLANO POPULAR DE EMERGÊNCIA que elencou mais de 70 medidas de emergência que o governo de transição e o novo governo deveriam implementar, que na nossa opinião, tiraria o país da crise econômica, social e política.

E depois, durante a campanha eleitoral, discutir um novo projeto de país, que tome em conta a necessidade de reformas estruturais de médio e longo prazo, como a Reforma Tributária, a reforma dos meios de comunicação, a reforma agrária, as mudanças no pagamento dos juros e do superavit primário e a própria reforma do poder judiciário.

Mas para que tudo isso aconteça, os trabalhadores, as massas, precisam urgentemente ganhar as ruas. A força do povo só se exerce nas ruas, nas mobilizações, ocupações e pressão de massa. Acredito que nas próximas horas e dias, haverão várias plenárias para debater calendários concretos de mobilização. De nossa parte, achamos que a semana que vem é decisiva. Precisamos acampar no STF, para garantir a renúncia dos golpistas e prisões dos corruptos denunciados pelo Joesley Batista. Precisamos realizar amplas mobilizações em todas as capitais e grandes cidades, dia 21 próximo, domingo. Precisamos transformar o dia 24 de maio, não só em mobilização em Brasília, mas em todo país, ocupando as assembleia legislativas, as estradas… enfim, o povo precisa entrar em campo e pressionar para acelerar as mudanças necessárias.

4,- Na sua avaliação, eleições diretas podem trazer avanços para o país? Como? Quem seriam os candidatos?

Claro, as eleições diretas para presidente e um novo congresso é uma necessidade democrática, para tirarmos o país da crise política. Ou seja, só as urnas podem repactuar um governo que represente os interesses da maioria e para ter legitimidade de realizar mudanças a favor do povo, para sairmos da crise econômica. Porque a crise econômica é a base de toda crise social e política.

Da classe trabalhadora, o Lula é ainda o que representa as amplas maiorias do povo brasileiro e que pode se comprometer com um projeto de mudanças e com nosso plano de emergência.

Provavelmente, teremos muitos outros candidatos, como Bolsonaro, na extrema direita, Marina, tentando ocupar um eleitorado de centro, mas sua base real é apenas a igreja Assembleia de Deus. E entre o tucanato, eles estão em crise, porque Alckmin está arrolado em várias denúncias. Dória é um playboy de quinta categoria.. e a Globo não teve tempo, ainda, para construir uma alternativa a lá Collor…

5.- Qual a saída para impedir os retrocessos da agenda golpista?

Se mobilizar, lutar, não sair das ruas. E trabalhar nos próximos dias, na perspectiva de uma greve geral por tempo indeterminado. Toda nossa militância social e os leitores de nosso Brasil de Fato, devem ficar alertas, que os próximos dias serão batalhas decisivas para definir os rumos dos próximos anos. E a força da classe trabalhadora só se expressa nas mobilizações.

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