São Paulo – Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta sexta-feira (8), após o STF julgar inconstitucional a prisão após sentença em segunda instância – antes de esgotados todos os recursos legais para que o réu prove inocência – , permitirá maior diálogo entre os partidos que compõem o chamado campo da centro-esquerda e da esquerda no país, como PT, Psol, PCdoB e PSB, entre outros, que devem aproveitar a figura de Lula para fortalecer candidaturas conjuntas nas eleições municipais do próximo ano. “(O diálogo) não só facilita, como é uma questão de necessidade”, alerta Ramirez, que é também professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo Paulo, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual. “Diante dos fenômenos mais conservadores que estão acontecendo no Brasil, a união dos partidos de esquerda se torna algo necessário.”
Já se especulava, diz o analista, que as legendas partidárias estariam se articulando para enfrentar com união o próximo pleito, mas foi durante o pronunciamento do ex-presidente neste sábado (9), em São Bernardo do Campo, que as expectativas ganharam força. Para alguns, a cena do deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) na linha de frente do palanque, acompanhado no lado oposto, quase que na mesma posição, pela deputada Benedita da Silva (PT-RJ), antecipou uma possível chapa para a prefeitura do Rio, por exemplo.
À revista CartaCapital, o deputado cravou sua candidatura à prefeitura da cidade fluminense, que terá uma coligação inédita entre PT, PV e, possivelmente, Rede e PCdoB. De acordo com o site, a posição de vice – para a qual se cogita a participação da deputada Benedita – ainda não foi confirmada. Movimentações semelhantes, do PT abrindo até mão de candidatura própria para apoiar outros nomes dos setores progressistas, são apontadas em Porto Alegre e outras cidades.
De acordo com o cientista político, a tendência é que o PT esteja à frente da criação de uma bandeira de esquerda ainda mais ampla, como demonstrou o próprio Lula. Para Ramirez, essa é uma estratégia coerente diante dos riscos à democracia representados pelo presidente Jair Bolsonaro.
“Em torno da figura de Bolsonaro, a tendência que a gente tem é a de que centenas de prefeitos podem ser eleitos por conta dessa influência, de uma visão reacionária, retrógrada e contrária aos direitos humanos”, avalia. “No próprio discurso do Lula nesse sábado surgiu um elemento novo dentro desse debate, pelo menos nas mãos de Lula, que é promover candidatos eleitos com claro objetivo de combater as milícias e reduzir, portanto, a violência angariada por esses grupos (…) que provavelmente tenham sido os responsáveis pela eleição de Bolsonaro.”