7ª Conferência Uni Américas
Bogotá, Colômbia — A Federação LiVRE apresentou — no último dia da 7ª Conferência Regional ICTS da Uni Américas, que reuniu representações sindicais de todos os países do Continente —um plano de prioridades para a Organização dos Trabalhadores de Telecomunicações e Informática (ICTS), diante da expansão acelerada das tecnologias digitais, automação e organização do trabalho, que configuram uma nova economia na região e no Brasil.
O encontro escolheu a nova direção da Uni Américas para o mandato 2005-2009 e o presidente da LIVRE, Luiz Antônio Souza da Silva (efetivo), e a diretora do Sinttel-PE, Juliana Maria Ferreira da Silva (suplente), foram indicados para o Comitê Regional, que dirige a entidade.
A Conferência avançou na discussão da geopolítica, principalmente com a ascensão de governos de extrema direita em várias partes da América Latina, ameaçando o direito trabalhista conquistado ao longo de décadas. Os sindicalistas apresentaram várias moções, dentre elas, uma moção de repúdio à escalada de tarifas dos EUA sobre o Brasil e a região, ressaltando a defesa da soberania, o multilateralismo e o comércio justo para os povos. A nota foi assinada pelo presidente da Uni Américas, Hector Dael.
O destaque do segundo e último dia (10/07), com elogios do secretário Regional da Uni América, Marcio Monzane, foi para a delegação dos/as sindicalistas brasileiros/as da Federação LiVRE que expuseram os problemas dos trabalhadores em Telecom. Os números assustadores de adoecimentos mentais nos call centeres, assédio moral e sexual, pressão por metas, escalas abusivas, discriminação da população LGBTQIAPN+ e a precarização dos trabalhadores terceirizados tomou conta dos debates.
Dentro das prioridades defendidas pela Federação LiVRE na Uni para o novo mandato estão: Reforçar o poder sindical nas principais multinacionais e empresas chave ICTS; Sindicalizar e melhorar as normas dos serviços das empresas; Reforçar a influência política e o poder econômico dos/as trabalhadores/as e Criar uma estratégia em favor do trabalho decente na área digital.
O presidente da Federação LiVRE, Luiz Antônio, participou da mesa Sindicalizar e Melhorar as Normas dos Serviços às Empresas, abordando a importância e urgência nas campanhas de Sindicalização, para ampliar os acordos globais, já que a Uni tem dois acordos mundiais com a Telefônica e também com a Teleperformance e, agora, encaminha a discussão de um novo acordo com a América Móvel, Grupo Claro no Brasil.
Outra mesa foi com relação ao Risco de Violência para pessoas que trabalham em rede e instalação de cabos, instalação de equipamentos de telecomunicações, que são os técnicos terceirizados nas empresas prestadoras de serviço em rede externa e nas provedoras de Internet.
Luiz evidenciou a violência cotidiana dos trabalhadores com relação a salário, benefício, assédio, horas extras abusivas, não pagamento de horas extras, enfim, toda essa problemática que os trabalhadores vivenciam, mas também para a violência urbana nos grandes centros, principalmente em áreas dominadas pela milícia, pelo tráfego, pela bandidagem. Segundo o presidente, trabalhadores sofrem uma violência muito grande, como sequestros, ameaças de vida, quando estão somente trabalhando. Ele enfatizou a necessidade de organizar trabalhadores na área da tecnologia da informação e, para isso, é preciso ampliar a sindicalização dos novos setores, principalmente do pessoal de conteúdo, os chamados moderadores de conteúdo.
O outro tema importante tratado pelo presidente da LiVRE, foi sobre as normas setoriais de identificação de denúncia para quem age erradamente. “Discutimos a violação de direitos. São vários direitos, desde o abuso com relação a salário, assédio sexual e moral, condições de trabalho vivenciadas no nosso dia a dia dentro e fora das empresas,” destacou.
Como ação, Luiz Antônio adiantou que já está em curso uma fortíssima campanha de sindicalização. “É importante sindicalizar em todos os setores das empresas: operadoras, call center e também dos trabalhadores terceirizados, pois é fundamental ampliar e representar melhor a categoria, principalmente os mais precarizados” reiterou.
Ampliar e reformatar os acordos globais
Um novo padrão da negociação coletiva precisa ser implementado, para além do que os sindicatos da Federação LiVRE normalmente fazem com relação à negociação, que são benefícios, salários e organização sindical. “Temos que ampliar a negociação para essa nova tecnologia que é a inteligência artificial”, disse o presidente da LiVRE.
Para ele, ter capacidade de discutir a introdução da inteligência artificial nas nossas empresas e colocar regras nos acordos coletivos, criando comitês de trabalhadores e empresas pode mitigar os problemas, como o desemprego. “Qualificar os é urgente diante dessa questão”, destacou Luiz.
Outra ação discutida foi ampliar as negociações coletivas, o poder de organização dos sindicatos e da Uni junto com os segmentos da sociedade civil para que se possa ter uma regulação da inteligência artificial.
O presidente da LiVRE salientou a necessidade de uma conferência mundial para tratar especificamente desse assunto, inteligência artificial, onde é preciso entender os processos, os impactos e trocar experiências mundiais com relação à negociação, traçando objetivos comuns dos nossos sindicatos para proteger e ampliar os direitos dos trabalhadores.
Nilson Hoffmann, diretor no Sinttel-ES
AI e os instaladores de banda larga e internet —”No Brasil existe essa a exploração de banda larga por pequenos provedores de internet que hoje tem mais de 50% do setor, atuando no mercado. Essas empresas têm poucos empregados numa condição trabalho precarizada, com baixíssimos salários, e que não podem ficar invisíveis. E os salários baixos não criam vínculo com as empresas, que são trocadas à medica de que oferecem melhores condições. Isso dificulta a sindicalização e organização desses trabalhadores. Mesmo assim, os sindicatos da Federação LiVRE já têm instrumentos coletivos para proteger esses trabalhadores e que, no dia a dia diante de tanta dificuldade, essa questão de inteligência artificial, e como isso se dá, está distante da realidade deles, apesar de eles serem os trabalhadoras que vão nas casa dos clientes levar tecnologia de última geração. É preciso que a Uni tenha um olhar para essa questão”.
Yêda Paura, diretora no Sinttel-Rio
Regulamentação da profissão do/a teleoperador/a — “Através de dois deputados do Rio, um projeto de lei foi apresentado e está tramitando no Congresso Nacional. Até agora está pendente, não foi aprovado. Porém nós já tivemos essa iniciativa. Outra questão é a violência urbana que interfere no trabalho do pessoal da área de rede, quando as milícias não deixam que esses trabalhadores entrem nos territórios, nas comunidades comandadas pelo tráfico, ou então os sequestram, roubam o carro, os equipamentos e outros atos violentos. Nessa conjuntura, principalmente no Rio de Janeiro, as pequenas provedoras de internet imperam nestes naqueles locais, limitando a entrada das grandes operadoras de serviços de Telecom”.
Maria Cintia Matias dos Santos Sturm, diretora na LiVRE e Sinttel-PE
Adoecimento Mental no Brasil — “Destaco o alarmante aumento dos afastamentos por adoecimento mental no Brasil e a urgência de enfrentar os riscos psicossociais no trabalho. Defendo a implementação da nova NR-01 no Brasil e a necessidade de vigilância internacional. A saúde mental é uma epidemia global e deve ser enfrentada com prioridade”. Apelo à UNI por proteção efetiva aos trabalhadores. Queremos trabalho digno, seguro e saudável”.
Lacy da Matta – presidente no Sinttel-AM
Música, teatro e literatura para atrair os jovens para a luta sindical — “Em uma experiência recente ocorrida na assembleia com trabalhadores no meu estado, o Amazonas, para aprovação da Convenção Coletiva, o descanso foi a reivindicação mais pedida. Como envolver esses trabalhadores na luta, como encantá-los para a causa, como atrair os jovens? Como fazer uma comunicação e uma linguagem que atinja e apaixone a categoria? Penso que através da arte se chega lá, pela música, teatro e literatura.
Temos alguns sindicatos que abrem suas portas para promover a cultura como forma de conscientização, devemos ampliar essa ação”.

Também expuseram outros problemas que são enfrentados pelos sindicatos no Brasil, o presidente do Sinttel-RO, Evaniel Medeiros e a diretoria do Sinttel-PE, Juliana Maria Ferreira da Silva, demonstrando ativismo, compromisso dos sindicatos da Federação LiVRE com os trabalhadores e sua vida além do trabalho.